quinta-feira, 26 de março de 2020

Sintra- Quinta e Palácio da Regaleira

A Quinta da Regaleira constitui um dos mais surpreendentes monumentos da
Serra de Sintra. Situada no termo do centro histórico da Vila, foi construída entre
1904 e 1910, no derradeiro período da monarquia.
Os domínios românticos outrora pertencentes à Viscondessa da Regaleira,
foram adquiridos e ampliados pelo Dr. António Augusto Carvalho Monteiro
(1848-1920) para fundar o seu lugar de eleição. Detentor de uma fortuna
prodigiosa, que lhe valeu a alcunha de Monteiro dos Milhões, associou ao seu
singular projeto de arquitetura e paisagem o génio criativo do arquiteto e
cenógrafo italiano Luigi Manini (1848-1936) bem como a mestria dos escultores,
canteiros e entalhadores que com este haviam trabalhado no Palácio Hotel do Buçaco.
Homem de espírito científico, vastíssima cultura e rara sensibilidade, bibliófilo
notável, colecionador criterioso e grande filantropo, deixou impresso neste
livro de pedra a visão de uma cosmologia, síntese de memória espiritual da
humanidade, cujas raízes mergulham na Tradição Mítica Lusa e Universal. 
A arquitetura e a arte do palácio, capela e demais construções foram cenicamente 
concebidas no contexto de um jardim edénico, salientando-se a predominância
 dos estilos neomanuelino e renascentista.
O jardim, representação do microcosmo, é revelado pela sucessão de lugares
imbuídos de magia e mistério. O paraíso é materializado em coexistência com
um inferius – um dantesco mundo subterrâneo – ao qual o neófito seria conduzido
pelo fio de Ariadne da iniciação.
Concretiza-se com estes cenários a representação de uma viagem iniciática, 
qual vera peregrinatio mundi, por um jardim simbólico onde podemos sentir a
Harmonia das Esferas e perscrutar o alinhamento de uma ascese de
consciência que viaja pelas grandes epopeias. Nele se vislumbram referências 
à mitologia, ao Olimpo, a Virgílio, a Dante, a Camões, à missão templária da
Ordem de Cristo, a grandes místicos e taumaturgos, aos enigmas da Arte Real,
à Magna Obra Alquímica. Nesta sinfonia de pedra revela-se a dimensão poética
e profética de uma Mansão Filosofal Lusa. Aqui se fundem o Céu e a Terra numa
realidade sensível, a mesma que presidiu à teoria do Belo, da Arquitetura e
da Música, que a concha acústica do Terraço dos Mundos Celestes permite propagar 
pelo infinito.


















































































































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